segunda-feira, 27 de junho de 2011

Jardim Tempo Verbal


Parecia Passado longínquo.
Igual a um antigo filme francês:
Eram sempre em preto e branco minhas imagens ao seu lado.
Entre ruas de pedras, ou por floridas estradas campesinas.
A ausência de matizes tornava irrealizável o encontro.
Mas o tempo fez-se amigo, e trouxe você com suas cores vindas de terras extensas.
Enterneceu minhas paisagens como um Jardim de Monet.
Largos campos de lavanda, tulipas, gerânios, margaridas.
Todas as flores do mundo, em qualquer canto.
Meu Presente, tens cores vívidas e movimento.
Girassol, me gira o mundo!
Claras manhãs de Futuro espero contigo.
 ~ ~ ~

Escrevi em silêncio externo, atenta ao chamado do meu coração.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Dramatizando Fernando Pessoa

Fernando Pessoa sob o heterônimo Álvares de Campos
in
Poema em Linha Reta
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Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,


Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
 
Ó principes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
 
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
~~~
O poema mais intenso, que mais me provoca e envolve-se nas minhas entranhas.
Um soco descomunal no estômago.
Sinto uma fabulosa inquietação cada vez que o leio, e prazer também.
O dia em que o dramatizei foi impactante. De um gozo indescritível.
Fui intensamente carne, âmago, alma. Tremi, gelei, sorri e chorei depois.
Trabalhamos com vigor e reflexão nossos corpos/mentes durante 3 dias de oficina, pra depois expormos em um palco, para uma platéia atenta todos os sentimentos que tínhamos acumulado nesse processo.
Para mim foi delirante.
E o poema que me coube expressar foi esse que lhes apresentei acima. Não foi acaso, estava programado em esferas celestiais que eu teria de proferir essas palavras à outros, colocar minha alma na ponta da língua, meus pensamentos na íris. Eu fui! Fiz!
Taí, o milésimo de segundo que antecedeu essa delícia:
SESC RONDÔNIA - 2010
Foto: Avener Prado

Hoje: 123° aniversário do nascimento de Fernando Pessoa.

domingo, 12 de junho de 2011

Noite dos Namorados


Não é que seja exatamente corajoso, meu coração tem é isso de bom: não ocupa espaço com mágoas e, com o tempo, ele se tornou desmemoriado pra assuntos de frustração. Quando me dou conta, lá está ele amando de novo, sorriso de orelha a orelha, com tal frescor que parece que nunca foi ferido. Dá, sim, pra ver uma cicatriz aqui e ali, outras mais adiante, que cicatriz não morre, mas ele não liga. Nem eu. Não é que seja exatamente teimoso, meu coração tem é isso de bom: gosta de amar.

Sentindo o frescor de coisas novas.
Todo dia é uma chance pra acordar e vestir-se em sentimentos bons; uma questão de escolha.

Uma música?
New Soul, de Yael Naim.
O clipe também é lindo e inspirador.
Go You Tube!

;)

sábado, 11 de junho de 2011

Your Body Is a Wonderland


"Discover me, discovering you"
"One pair of candy lips"
"And if you want love, we'll make it. Swimming a deep sea of blankets"

Do you remember?
This should be our song

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Teus Sinais

"Digo que somos importantes, e bons, e capazes, mas também digo que somos tantas vezes fúteis, que somos medíocres demasiadas vezes. Digo que poderíamos ser muito mais felizes do que geralmente nos permitimos ser, mas temos medo dos preços a pagar. Somos covardes.
(...)
Sou dos que acreditam que a felicidade é possível, que o amor é possível, que não existe só desencontro e traição, mas ternura, amizade, compaixão, ética e delicadeza."

(Lya Luft - Perdas e Ganhos)

~~~

Ouvindo Dois Barcos, uma das músicas mais lindas do Los Hermanos.
Escrevendo muitas coisas, mas deixando tudo arquivado. Não dá pra postar ainda, pois estou digerindo esses sentimentos. Prefiro mastigar direitinho, engolir tudo (nem que seja com farinha)... Sempre tive dificuldades em vomitar mesmo.
Não quero que passemos o desgaste de lavar a roupa suja.
Na terça ouvi um "Eu te amo". Mesmo sendo verdadeiro, no fundo eu interpretei como um "Estou indo embora", pois é o que me parece.
Te vejo tomando distância, rumando pra um horizonte não muito bom.
Podia ser tudo igual, como antes. Mas a gente muda. Muda por dentro e por fora.
Duro é admitir que não dá pra todos irem no mesmo barco, senão pesa e naufraga.
Já que a gente não quer/pode se largar, deve haver um jeito de navegarmos lado a lado, então.
Assim não te perco de vista. E ao menor sinal de naufrágio, estarei bem perto pra ajudar.

Agora, "Aponta pra fé e rema!"


quinta-feira, 2 de junho de 2011

Aquela fome

Me alimento do que nem sei. Não conheço, não vejo.

Mas gosto e me delicio.
Tem sabor de azul. Cheiro de infinito. Textura de obscuro.
Quase medo.
Encorajo-me. Saltando nesse precipício delirante.
E me alimento sem saciar.
Azul tem gosto bom.
Infinito é como jasmim. Com notas de um amor inesperado.
Obscuro é êxtase que incita a ousadia.
Só quero teu cheiro, sabores e textura.

A alegria da tua chegada pode ser meu 'pão de cada dia'.

Para minha fome o medo é caminho ignorado.

~ ~ ~
Ouvindo Marcelo Jeneci. O CD é todo lindo!
Tranquilizante como um chá de erva-cidreira é a faixa-título:
-  Feito pra Acabar (...a gente é feito pra acabar; a gente é feito pra dizer que 'sim').
No sentido quase oposto, revigorante como café com leite e bolo:
- Felicidade ("Você vai rir sem perceber, felicidade é só questão de ser").