quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Brevíssimo Regurgitar sobre O Eterno Retorno

As consequências de nossas ações nos agarram pelos cabelos; para elas é indiferente que, no intervalo, nos tenhamos tornado melhores.
(Aforismo 179, F. Nietzsche in Além do Bem e do Mal)

Ação e Reação me faz pensar na idéia do Eterno Retorno, também descrita por Nietzsche. E se todas as situações forem mesmo repetições?! Se nossas escolhas forem delineadas sempre sobre os mesmos pontos cruciais?
É possível que seja essa uma verdade, para a qual poucas vezes nos damos a refletir.
Qual importância das nossas ações diante de  acontecimentos cíclicos?
Se tudo for condicionado à repetição, o horizonte é bem mais próximo do que o termo inspira imaginar; as fronteiras podem estar longe, mas elas existem por toda parte.

"A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela, poeirinha da poeira!".
(A Gaia Ciência)

Muitas vezes temos a sensação de estarmos tomando decisões já anteriormente definidas, buscando sentido em traços decorados sobre nós mesmos, revivendo relações, sentimentos, sensações.
E o que haveremos de ser/fazer diante do Eterno Retorno?
É bem vinda essa idéia?
Depende de como enxergamos nossa existência, para onde direcionamos nossos atos e voltamos nosso olhar de absurdidade.
O tempo/espaço/cosmo é infinito, mas o que ocorre ao seu redor pode não ser. As possibilidades se acabam, o tempo não.
A imensidão da vida está primariamente dentro de nós. E ainda assim fazemos sempre questão em sermos vazios e limitados.
O Eterno Retorno é concreto externamente mas a alma humana resiste além daquilo que faz sentido. Somos essencialmente infinitos.
Não queiramos ampulheta, nem relógio, tampouco calendários...
E a gente é quem escolhe viver com o que é de fora ou com o que vem de dentro.
Se o Eterno Retorno nos será uma tragédia ou regozijo.

Deixarei minha alma moldar as possibilidades e meu espírito cronometrar os ciclos. Reviver o que for bom para então poder dizer: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes!"


Oroboro - Símbolo muito usado pelos alquimistas . A imagem de um dragão ou serpente que morde a própria cauda é o que mais se aproxima da representação do Eterno Retorno como evolução de quem volta a si mesmo.
Deu origem ao símbolo matemático do infinito.

Brevíssimo que tem continuidade...

Ewige Wiederkunft

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Werde, der du bist! Wit!

"O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem."
- Guimarães Rosa -

Coragem para os planos que não foram feitos, para os sentimentos despercebidos. Coragem para a palavra quase pensada, de uma frase quase proferida.
Coragem para admitir todos os 'quase' de uma vida titubeante. Admitir-se no comodismo pungente de não ousar buscar aquilo que não se pode ver/prever/definir.
Coragem na pergunta, nas respostas, nas ações. Coragem para ouvir. Coragem pra chorar.
Quem tem coragem diante o desconhecido?
Quem vai às margens do Ipiranga gritar:
"Eu fracassei. Eu matei. Roubei. Menti. Morri. Eu desisto. Eu enfrento. Eu amo. Eu renasço. Eu quero. Eu preciso. Eu não tenho forças. Costumo ser covarde. Eu quase luto, quase chego lá... Eu não sei fazer, eu não sei falar."
Quem?
Haja coragem pra tanta coisa!
Pra tirar as máscaras do sorriso-disfarce, da música intolerada, da verdade polida, da paciência que incomoda, da compreensão dolorida, da gripe que era um choro, cisco no olho-pranto, da preguiça-noite-em-claro, da voz-calma-desespero.
Coragem pra fraqueza. Mostrar onde dói. Coragem pra pedir socorro.
Até na oração é preciso coragem: ajoelhar-se diante de um Pai que tudo sabe, vê, entende e perdoa. Pois aí você tem que se perdoar também. E eis uma verdade: A maioria de nós gosta de auto-punição! O que também é covardia.
Perdoar os outros é bem mais fácil que perdoar a si mesmo. Olhar nos olhos de alguém não dói tanto quanto buscar seu próprio olhar diante do espelho.
Coragem para estar. Coragem pra deixar de ser.
"Tornar-te quem tu és."* Mesmo sem saber o quê isso significa.
Eis a vida, o amor, páginas em branco, dias adiante...
O que você quer. O que você quer?
Só é preciso Coragem!


...

Ouvindo: Get it While You Can - Janis Joplin



~ Porque hoje eu sou toda essa música, em cada acorde, cada palavra e solo de guitarra.


* Friederich Nietzsche, sempre me desafiando, in AFZ, Gaia Ciência e/ou Hecce Homo.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Jardim Tempo Verbal


Parecia Passado longínquo.
Igual a um antigo filme francês:
Eram sempre em preto e branco minhas imagens ao seu lado.
Entre ruas de pedras, ou por floridas estradas campesinas.
A ausência de matizes tornava irrealizável o encontro.
Mas o tempo fez-se amigo, e trouxe você com suas cores vindas de terras extensas.
Enterneceu minhas paisagens como um Jardim de Monet.
Largos campos de lavanda, tulipas, gerânios, margaridas.
Todas as flores do mundo, em qualquer canto.
Meu Presente, tens cores vívidas e movimento.
Girassol, me gira o mundo!
Claras manhãs de Futuro espero contigo.
 ~ ~ ~

Escrevi em silêncio externo, atenta ao chamado do meu coração.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Dramatizando Fernando Pessoa

Fernando Pessoa sob o heterônimo Álvares de Campos
in
Poema em Linha Reta
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<>
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Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,


Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
 
Ó principes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
 
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
~~~
O poema mais intenso, que mais me provoca e envolve-se nas minhas entranhas.
Um soco descomunal no estômago.
Sinto uma fabulosa inquietação cada vez que o leio, e prazer também.
O dia em que o dramatizei foi impactante. De um gozo indescritível.
Fui intensamente carne, âmago, alma. Tremi, gelei, sorri e chorei depois.
Trabalhamos com vigor e reflexão nossos corpos/mentes durante 3 dias de oficina, pra depois expormos em um palco, para uma platéia atenta todos os sentimentos que tínhamos acumulado nesse processo.
Para mim foi delirante.
E o poema que me coube expressar foi esse que lhes apresentei acima. Não foi acaso, estava programado em esferas celestiais que eu teria de proferir essas palavras à outros, colocar minha alma na ponta da língua, meus pensamentos na íris. Eu fui! Fiz!
Taí, o milésimo de segundo que antecedeu essa delícia:
SESC RONDÔNIA - 2010
Foto: Avener Prado

Hoje: 123° aniversário do nascimento de Fernando Pessoa.

domingo, 12 de junho de 2011

Noite dos Namorados


Não é que seja exatamente corajoso, meu coração tem é isso de bom: não ocupa espaço com mágoas e, com o tempo, ele se tornou desmemoriado pra assuntos de frustração. Quando me dou conta, lá está ele amando de novo, sorriso de orelha a orelha, com tal frescor que parece que nunca foi ferido. Dá, sim, pra ver uma cicatriz aqui e ali, outras mais adiante, que cicatriz não morre, mas ele não liga. Nem eu. Não é que seja exatamente teimoso, meu coração tem é isso de bom: gosta de amar.

Sentindo o frescor de coisas novas.
Todo dia é uma chance pra acordar e vestir-se em sentimentos bons; uma questão de escolha.

Uma música?
New Soul, de Yael Naim.
O clipe também é lindo e inspirador.
Go You Tube!

;)

sábado, 11 de junho de 2011

Your Body Is a Wonderland


"Discover me, discovering you"
"One pair of candy lips"
"And if you want love, we'll make it. Swimming a deep sea of blankets"

Do you remember?
This should be our song

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Teus Sinais

"Digo que somos importantes, e bons, e capazes, mas também digo que somos tantas vezes fúteis, que somos medíocres demasiadas vezes. Digo que poderíamos ser muito mais felizes do que geralmente nos permitimos ser, mas temos medo dos preços a pagar. Somos covardes.
(...)
Sou dos que acreditam que a felicidade é possível, que o amor é possível, que não existe só desencontro e traição, mas ternura, amizade, compaixão, ética e delicadeza."

(Lya Luft - Perdas e Ganhos)

~~~

Ouvindo Dois Barcos, uma das músicas mais lindas do Los Hermanos.
Escrevendo muitas coisas, mas deixando tudo arquivado. Não dá pra postar ainda, pois estou digerindo esses sentimentos. Prefiro mastigar direitinho, engolir tudo (nem que seja com farinha)... Sempre tive dificuldades em vomitar mesmo.
Não quero que passemos o desgaste de lavar a roupa suja.
Na terça ouvi um "Eu te amo". Mesmo sendo verdadeiro, no fundo eu interpretei como um "Estou indo embora", pois é o que me parece.
Te vejo tomando distância, rumando pra um horizonte não muito bom.
Podia ser tudo igual, como antes. Mas a gente muda. Muda por dentro e por fora.
Duro é admitir que não dá pra todos irem no mesmo barco, senão pesa e naufraga.
Já que a gente não quer/pode se largar, deve haver um jeito de navegarmos lado a lado, então.
Assim não te perco de vista. E ao menor sinal de naufrágio, estarei bem perto pra ajudar.

Agora, "Aponta pra fé e rema!"